quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Primeira parada: Paris!



Um lugar onde o retorno é certo: depois de um ano inteiro de trabalho, Paris foi a pausa para bater pernas antes do itinerário brasílis. Três dias, apenas; mas muito bem aproveitados. Foi nossa primeira viagem à capital francesa. Apenas uma certeza nos guiava: três dias não seriam suficientes!
Programamos a saída para a manhã do sábado(6). Havíamos dormido três horas e meia na noite anterior, depois de finalizado o último dia de trabalho antes das férias. Tanto eu quanto a Raquel chegamos em casa depois da uma da manhã. Tínhamos ainda que concluir a organização das mochilas. Vida de mochileiro é assim mesmo!
Cinco e meia toca o despertador para um rápido café da manhã antes do trajeto até a estação de Kings Cross. Quando, repentinamente, algo acontece: estour um prato, dos maiores, no chão da cozinha.
Nos olhamos subtamente. Estávamos os dois dentro do quarto. A Raquel, minutos antes, tinha ido retirar um copo do secador de louças estilo papagaio de metal, onde tudo se organiza. E, conforme “organizações Raquel”, dificilmente um prato quebraria assim, do erro dela. Quero depôr contra esta possibilidade. Ela jura que não mexeu em pratos.
- Foi você?
- Não! E você?
- Também não!
Sorrimos em meio ao susto do inesperado. Passado o acontecido, chegava a hora de embarcarmos na nossa primeira viagem à bordo do Eurostar, o trem que atravessa o canal da mancha rumo à cidade luz.
Não sem antes acontecer outra interferência. No primeiro quarteirão de caminhada rumo à Kings Cross Station, um gato preto anda ao lado do nosso caminho. Desaparece em meio à escuridão da madrugada. O segundo sinal. Algo desagradável poderia acontecer na nossa viagem. Mas, o que? Invariávelmente, como diria um amigo do rádio, minha intuição é falha.
Tanto eu quando a Raquel nunca fomos supersticiosos. “O destino é a gente quem faz ; a gente que faz o destino na mente de quem for capaz”, disse Raulzito. O nosso destino era o trem das oito.


Sabíamos, desde então, que uma colega de trabalho da Raquel nos esperaria na estação Gare Du Nord, centro de Paris, para uma volta inicial que nos deixaria mais tranquilos em relação à não perder tempo como “marinheiros de primeira viagem” na capital dos franceses. Estávamos acompanhados de alguém que fala a língua e pede informação correta, em francês, sabendo os caminhos a tomar e fazendo decisões rápidas. Isto, certamente, implicaria em ganho de tempo. Afinal, o tempo é um inimigo quando a visita é curta. Curtíssima. Tudo certo. Não fosse o atraso da Madaleine. E o fato de, antes mesmo de termos visto a amiga, não termos encontrado quase nenhuma informação em inglês. Ou italiano, ou qualquer rabisco que não o francês. Ainda não suportamos a língua deles. Era o terceiro fato inusitado desde as primeiras horas da manhã. Algo estava errado, além da falta de suporte à língua.
Resolvemos comprar um bilhete de metrô. No entanto, sem rumo. Não sabíamos para que lado sair. Estávamos à procura do hotel. Quando a Raquel avista, ao longe:
- Maddy!

Pronto! A moça se desculpava, meio estabanada com o atraso. Eu não conhecia a Madeleine. Inicialmente, tinha apenas a informação de que nos ofereceria um café da manhã, possivelmente na casa da família dela. Moça de boa fé. Gente fina. Sempre sorridente e disposta. Nos ofereceu opções e pediu para que pudéssemos encontrar com o próprio passado dela. Nos sugeriu como primeira visita em Paris um local de sua infância. De lembranças, eu imagino, as melhores possíveis. Quiz dividir o detalhe da escolha pessoal conosco. Teve, ali, sua primeira conquista pessoal. Nas primeiras horas de Paris, estávamos acolhidos pelos braços negros da simpática Maddy, a amiga que a Raquel ensinou a trabalhar. Ali começava o nosso chão parisiense.
Não fosse outro imprevisto.
Maddy retornava naquela mesma tarde à Londres, depois de uma semana de férias em Paris. Saiu com a bagagem em mãos e resolveu colocar a mala num local seguro dentro da estação. Descemos um lance de escadas já no pique, querendo saber qual seria o primeiro destino e coisa e tal. Quando fomos abordados por um estranho.
- Fala inglês ou italiano? Espanhol!
O estranho estava ofegante. Como quem corre. Demonstrava muita preocupação. Olhava para os lados.
Respondi que sim.
Fiz noticiário policial longos anos em frias manhãs durante ocorrências as mais inóspitas o possível na região de Ijuí. Já andei rios, vi corpos, descobri termos e expressões, aprendi a utilizar palavras específicas e fui todo ouvidos por corredores de delegacias. Entrevistei advogados. Juízes, delegados, malandros e malvados. Já vi muita gente ruim. Jamais conseguiria entender o que contaram várias vítimas de contos do vigário, bilhete ou outro qualquer, não fosse aquele piradão parado em minha frente:
- Pode trocar estes 15 euros, senhor, preciso comer e não me sobra dinheiro da passagem. Devo retornar rapidamente.
Respondi que não. O rapaz, insistente, se dirige à Maddy e faz o mesmo pedido. A Raquel olhava, desconfiada, em silêncio. Quando comecei a desconfiar ele já se mandava escada acima. Foi tudo muito rápido. O golpista entregou 15 euros para a nossa amiga. Ela o devolveu uma nota de 20 em menos de 15 segundos. Silêncio da minha parte. Caiu no conto.
Confesso que fiquei muito irritado. Poderia ter interceptado. No entanto, ela não parecia entender bulufas do que estava acontecendo. Tirou o dinheiro da carteira e ofereceu ao safado. Dali em diante, olhos muito abertos, pois aquele truque rápido não seria o único.
Com a certeza de um retorno inevitável, em algum momento da vida, mergulhamos nas belezas mais instigantes do centro de Paris. A escolha do hotel foi a mais simples possível. Como o desafio era os longos dias de descobertas, fotos, vídeos e caminhadas extensas, qualquer local limpo, simples e com um bom chuveiro e um bom aquecedor seria o suficiente para passarmos nossas duas noites. Escolhemos o hotel mais próximo possível à estação onde chegam e partem os trens do Eurostar: A Paris Gare du Nord.
Escolha perfeita. O hotel é uma boa dica para qualquer outro mochileiro, como nós, que pense em visitar Paris sem gastar muito dinheiro, muito menos se aglomerar em quartos de hostels com outros 10 ou 12 colegas de estradas. Uma das principais linhas de metrô a dois minutos, zona central de Paris, acesso aos pontos mais importantes da cidade e portaria 24 horas. É claro!
A primeira parada, escolhida por Maddy, foi o Palais de la découverte. O Palácio das descobertas é um local fabuloso, que iremos visitar novamente, sem dúvida. Trata de experiências com a luz, o som, a sombra, o eletromagnetismo e tudo mais estilo Museu da Ciência de Londres, para agradar turistas e estudantes de todas as idades.
Não participamos das exposições e experiências porque estávamos há uma hora do fechamento. O passeio requer o tempo de uma tarde inteira, no mínimo.
Caminhamos até as margens do Sena. Ao fundo, a Torre Eiffel. O impulso foi unânime. Nos dirigimos para a torre. A estrutura de metal e ferro dos mais de dois mil degraus e 150 metros de altura, à primeira vista, assusta. Outro dia ouvi dizer que “a vertigem não é o medo da altura, e sim, a vontade de voar”. Não deu outra, no segundo dia de visitas fomos até o topo da torre, no terceiro andar, detalhe que contarei em seguida.
Antes disso, a despedida da Maddy e a certeza de que a primeira tarde de caminhada havia sido muito bem aproveitada. Terminamos o dia na Champs-Élysées rumo ao arco do Triunfo.
Conta a Wickipédia que “O Arco do Triunfo (francês: Arc de Triomphe) é um monumento, localizado na cidade de Paris, construído em comemoração às vitórias militares de Napoleão Bonaparte, o qual ordenou a sua construção em 1806. Inaugurado em 1836, a monumental obra detém, gravados, os nomes de 128 batalhas e 558 generais. Em sua base, situa-se o Túmulo do Soldado Desconhecido (1920). O arco localiza-se na praça Charles de Gaulle, uma das duas extremidades da avenida Champs-Élysées”. A avenida mais bonita e charmosa do mundo tem cheiro de perfume, som de automóveis caros, suspiros multiculturais e línguas idem. É o local das grandes marcas. Consumo, cultura, arquitetura. Espaço. Muito espaço. Muita gente.
Por volta de oito e meia da noite a fome apertava. Havíamos feito lanches rápidos, até então. Restaurantes mais caros estavam fora de pauta. Fomos ao mercado, coisa de 50 passos da porta do nosso hotel. Compramos comida barata, embora tivesse sido um pote de caviar de salmão (vendido a 3 euros!), iogurte, pão, salame, queijo e torradinhas para acompanharem nosso salmão. Cervejas e chocolates.
Nada é melhor do que a localização. O Hotel nos proporcionou a chance de um repouso de quase duas horas. Por volta de nove e meia da noite, temperatura perto do zero, era hora de bater pernas novamente. Fizemos o trajeto oposto do Arco do Triunfo em direção à Praça da Concórdia, onde está situado o monumento mais antigo de Paris, o obelisco monumental vindo diretamente do templo de Karnak, no Egito.
Não bastasse o frio e o cansaço do primeiro dia, ainda havia fôlego para continuar caminhando outros 15 minutos depois da Praça, passada meia noite. Em direção ao Louvre. É claro, as fotos noturnas nos encantam! O Louvre seria a pausa permanente do terceiro dia de visitas. Era tempo de retornar, quase uma da madrugada, ao hotel e conseguir algumas horas de sono até a manhã seguinte.


No segundo dia começamos a manhã rumo à Catedral de Notre Dame. Inevitável, aqui, é uma nova consulta ao Google. “A Catedral de Notre Dame”, ao leste da Ilha de Paris, é considerada a peça mais requintada da arquitetura gótica francesa. A construção teve início em 1163, durante o reinado de Louis VII. Os vitrais marcam o culto ao naturalismo e o órgão de mais de sete mil combinações musicais levou séculos para ser concluído. Cinco sinos badalam nas torres da Catedral, o mais pesado chega a somar 13 toneladas”.
Em verdade, pequenos resumos de histórias não devem, aqui, ser levados à sério, somente à título de curiosidade, já que seriam necessários espaços tal qual a história dos locais onde estivemos para contar detalhe por detalhe.
No entanto, é válido comentar que o interior da Igreja nos levou quase três horas. Dedicamos o tempo às fotos e filmagens. Aqui entra o melhor da festa. Muito diferente dos ingleses. É possível filmar e fotografar tudo o que quiser em Paris. Trouxemos vasto material dos quadros, pinturas, esculturas, vitrais, paredes, teto e altar da Catedral. Pagamos a relíquia de termos tido todos os sentidos aguçados com minutos de contemplação. Silêncio.
Depois da Nossa Dama, uma parada para o almoço. Logo em frente à Catedral, o escolhido foi um restaurante indiano de ótimo curry, saladas frescas, carnes e temperos delicadamente “spicy”.
À tarde caminhamos novamente nos arredores da Torre Eiffel até encontrarmos um casal de paulistas. Eles nos indicaram a Basília Du Sacré Coeur, no topo do Montmartre, o local mais alto da cidade, com uma vista fascinante dos pontos mais buscados pelas lentes e olhos em Paris. Foi nosso esbaldo de fim de noite e, também, um momento de contemplação. Paris é realmente linda. A cidade é limpa e atraente aos olhos. Os prédios são claros, beges, mais pintados. Nem tão cinzentos quanto o que vimos todos os dias na capital dos britânicos.
Quando pensávamos em descansar, muito perto das onze da noite, a última surpresa do segundo dia: caminhávamos uma estação a mais quando ouvi da Raquel:
- André! A gente olhou este local no folder das atrações turísticas no hall do hotel. É o Museu Erótico. Ao lado do famoso Moullin Rouge.
- Sim! Estamos na zona da luz vermelha. Os cabarés. A noite parisiente, embora vazia na noite do domingo frio, nublado . Como diz o Gourmet: Ennnnn...traremos!
Sete andares de um dos ambientes que mais me impressionaram ao longo de todas minhas andanças. Também impressionou a Raquel. Pinturas, esculturas, fotos, objetos, enfeites, miniaturas do cotidiano de vidas, amostras de várias partes do mundo. Tudo muito bem organizado e repartido. O sexo paira no ar. As vezes com amor, aroma. Suavidade. Cores e sabores. Outras, crueldade. Inquietação. Imagens inimagináveis.
Nossa noite terminou (ou estaria apenas começando?) no último minuto antes do fechamento do museu, a uma da manhã.
O último dia foi no Louvre, ao qual dedico um episódio à parte.
Não sem antes reconhecer: Paris II terá seus dias.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Pizza para a Tia Nice



Trabalhei menos hoje. Terminei às cinco da tarde. Comi menos no Restaurante. Véspera de dia de folga é assim. Uma folga paramim, folga para as comidas do restaurante idem. Já dei uma volta inteira no universo antes de, agora mesmo, estar devorando uma pizza. Uma não, três.
- Não, não! Não são três pizzas, e sim, três voltas no universo.
Véspera de dia de folga na véspera da viagem que é a véspera de outra viagem ainda maior, que é a véspera do último dia de trabalho. Incível, mas esta é a combinação do momento. Então a pizza é aquela mesmo, em promoção. A primeira da prateleira. O objeto do desejo de menos de duas libras. Básica, com um molho de tomate já seco aos olhos e avermelhado um pouco acima da média, queijo chedar normalzinho e quase inexistente, algumas fatias de calabresa. Preparada sobre uma forminha descartável de isopor e lacrada com plástico.



Voltando às vésperas, na véspera de tanta véspera, é frácil crer que a geladeira está quase vazia. Fui ao mercado hoje. Comprei leite, água, claro, a pizza e, para quebrar, um Strowberry Cheesecake em forma de Haagen.
Aqui é que se enquadra o elemento "complicação" na história toda. Acrescenta-se {a pizza prima pobre um pimentão vermelho em conserva doce, espedaçado em partes do tamanho de uma azeitona. Sim, ela também, a azeitona. Preta. Procura-se algum "topping" no armário.
Sobram ainda alguns galhos de tempero verde. Esmagados com os dedos, cortados grosseiramente. Mais queijo. Generosas fatias sobre aquela superfície medíocre da promoção. As promoções que nos fazem entrar goela abaixo são assim. Só depende de nós moldarmos ou não antes do consumo.




E, como o consumo desta pizza, agora mesmo, era inevitável, um trato com óleo de oliva, sal e pimenta, idem. Falta algo.
- Páprika.
- Terminou a boa.
- Shit.
- Ruffles! Ruffles de páprika. Tudo o que eu precisava!
O sabor se tornou muito mais interessante à medida em que o tempero verde, as azeitonas, o queijo e o molho de tomate Doritos, o mesmo picante médio com jalapenos para molhar as Ruffles, lógico, se tornaram elementos extras!
As batatinhas com páprika. Espedaçadas em farelos. Quase um "breadcrumb".




Falta mais nada. Oito minutos de forno à 180.
Logo após a primeira mordida, recordei a Tia Nice. Que nos perdoem os italianos, mas ficou realmente legal. Gostei muito da combinação, redondamente picante para quem curte. Moderada ao ponto para quem é aficcionado por pimenta e exageradamente saborosa pra quem nunca provou ou não sabe como saborear a comida mais picante.
Tia Nice, esta pizza vende!
Vende mais que a promoção sem graça do mercado.
E, para reconciliarmos com eles, o recado do italiano vero:
- Nunca, nunca! Com maionese, Ketchup e mostarda!
Generosidade no óleo extra virgem.