domingo, 6 de junho de 2010

Vai começar mais um show na terra!

Guardo com muito carinho um dos momentos de infância que mais me marcaram quando o assunto é a Copa do Mundo: as velhas fitas de videocassete.


Nem todos nós tínhamos. Muito tempo depois, quando assisti Indiana Jones e o Templo da Perdição, provavelmente meu primeiro filme no videocassete da nossa casa, alguns anos já haviam passado desde aquela tragetória bela, mas perdedora de 1982. Uma das melhores seleções de todos os tempos?



É o que dizem.



Eu deveria ter uns 10 anos de idade. Final dos anos 80. Lembro dos dias em que terminávamos as peladas em campinhos espalhados pela cidade. Na maioria das vezes, no fundo da minha casa. Um dos melhores campos de São Luiz Gonzaga. Quatro na linha, um no gol. Postes de madeira bem trabalhados, redes, gramado impecável e bola sempre nova. Já que perdíamos quase uma por dia quando um chutão desnecessário fazia com que a bola do nosso jogo fosse parar no terreno inóspito da vizinha.
Foto: Clio Luconi



Chamávamos a vizinha de Dona China. Coitada. Hoje eu entendo o lado dela. Vira e mexe, pá! Uma bolada no vidro. Na sala. Na cozinha. Na área onde ela tomava o chimarrão. Não tinha descanso. Nós jogávamos bola no campinho todos os dias, com sol ou chuva.



Ela, por outro lado, além de aguentar nossa zoeira, tinha uma coleção de bolas de couro número cinco.



Por vezes, saíamos do meu campinho. Jogávamos no fundo do pátio do velho Guego. No Rancho e no Cluvimil. No Clube dos Médicos eu adorava!



Tinha também um campinho na esquina da casa do meu velho amigo Ale Mayer. São Luiz Gonzaga era uma cidade com muitos campinhos de futebol. A gurizada improvisava.



Como era bom aquele tempo!



Depois das partidas, por vezes, eu era convidado pelo Matheus Oliveira a dar uma passada na casa dos avós dele. Ficava longe da minha casa, para um garoto de 10 anos de idade.



Caminhava até lá por um motivo especial: Os parentes do Matheus tinham vídeocassete.



Muito mais do que isso: tinham documentários das Copas Anteriores.



Foi lá o meu primeiro contato com a seleção canarinho. Foi lá que eu vi o Pelé pela primeira vez.

O Valdir Perez e o Zico. O Doutor, fazendo gol de cabeça e o Garrincha, driblando esquisitamente na copa de 70.

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A Copa do Mundo oferece momentos inesquecíveis. Sempre.
Tenho recordação da minha primeira Copa ao vivo. Em 86. Aquele pênalti que bateu nas costas do Carlos. Jamais esquecerei a festa na Praça da Matriz, ainda em São Luiz Gonzaga, depois do pênalti do Baggio. Também faz parte das lembranças o quanto foi chato ter assistido, em Ijuí, aos 3x0 e o passeio de Zidane sobre a nossa seleção "adoecida" em 98.


Vai começar mais uma Copa do Mundo. Hoje, vejo o espetáculo sob uma outra óptica: com os olhos de um profissional de imprensa.



Ontem à noite, a ITV4 apresentou na TV aberta britânica um documentário de uma hora. "Como vencer a Copa do Mundo". Depoimentos de personagens centrais em Copas anteriores e, claro, matemática e estatística. Aliás, um programa inteiro baseado em números das últimas cinco copas.



O melhor goleiro. Os quesitos de defesa. Desarme. Erros ao sair jogando, passes corretos. Na meia cancha, avaliações de posicionamento, roubadas de bolas, passes corretos e investidas ao campo adversário. Aos atacantes, gols. Aproveitamento. Cobranças de faltas. Quem fez mais gols de pênaltis. Nas penalidades, os ingleses aparecem no último lugar entre as 32 seleções classificadas para a Copa da África de 2010.



Fiquei bobo assistindo o programa. Tudo muito perfeito. Para comprovar que os números podem sim, impor favoritismo, o óbvio: na soma de todos os quesitos avaliados, o Brasil é o principal candidato ao título.



Ainda baseado nas estatísticas do programa, uma provável final será entre Brasil e França.



Voltando ao dia a dia dos jornais, fala-se muito na Espanha, por aqui, como adversária do Brasil na final.

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Quero ficar incomunicável com o mundo caso tenha que trabalhar em dia de jogos do Brasil. Quero conversar somente comigo. Não ouvir. Passar o dia inteiro envolvido. Não pensar. No retorno à casa, por volta de onze da noite, não farei esforço para procurar jornais atirados no Metrô. Não quero comoção. Nem curiosidade.



Em verdade, não quero nem pensar.



Tudo o que quero é poder chegar em casa alheio aos resultados. Tomar um banho, ligar a TV e o computador e me concentrar em qualquer site ou um dos inúmeros programas que estarão passando as reprises dos jogos inteiros.



Quero desmistificar o tempo, já que ele é uma mera ilusão. Quero poder assistir o jogo da minha seleção a meia noite com os mesmos olhos de quem já olhou durante a tarde. Quero, no final dos 90 minutos, saber aquilo que o mundo todo já sabia. Não importa o tempo.

Importa, sim, a facilidade com que as novas tecnologias invadem os nossos lares. Importa, sim, o quanto gelada estará a minha cerveja. Melhor ainda se o dia seguinte for de descanso.



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O grupo do Brasil é o mais forte de todos. A seleção do Brasil é uma das mais fortes de todas. Aposto no Brasil. As semifinais terão, no meu modesto ponto de vista, Brasil, Alemanha, Holanda e França. Chegou a hora de vingar a final de 1998!
Antes do ponto final, e da Jules Rimet no Palácio do Planalto em julho, ainda quero esquecer que Leonel Messi e Cambiasso podem, sim senhor, fazer toda a diferença!

Vai começar mais uma Copa do Mundo. Seja a hora que for, será imperdível. Será tecnologicamente inegável e supostamente inimaginável.