sábado, 18 de dezembro de 2010

Uma beleza de estrago

A neve. Há exatamente um ano, entre os dias 16 e 17 de dezembro, nevava forte em Londres. Hoje a história se repetiu. Tudo parou. Os ônibus estavam lotados e as linhas diminuiram a quantidade de veículos disponíveis. Milhares de pessoas se amontoavam em paradas de ônibus ao ar livre. Sob cortina branca e densa de neve.

O espetáculo da chuva sólida é lindo. E o contrário quando já está sobre o solo. A neve vira barro. Empecilho. Anúncio de perigo tanto para pedestres quanto motoristas. Equipes de ambulância tentam, à mercê do tempo, levar socorro a moradores dos rincões mais distantes.

Em torno de 20 centímetros de neve foi a conta somente para o dia de hoje no norte, Escócia, País de Gales e Inglaterra, um pouco mais acima no mapa.

O vento gelado e a temperatura de -3 graus colaboraram para uma única boa notícia: quem já está no hospital ganha atendimento 24 horas. Ou melhor, quase isso. Ocorre que os funcionários não foram para casa. Preferiram dormir no trabalho e evitar transtornos ainda maiores nas ruas congeladas. Além do mais, os hospitais estão lotados.

Aeroportos congelados e congelantes. Vôos cancelados. Milhares à espera. O metrô funcionou aos trancos. As linhas congelaram. O jogo do Arsenal foi cancelado.

Clientes no Morton´s Club e milhares de restaurantes nos arredores ligaram para cancelar reservas. Os pequenos roedores de nozes não apareceram nos troncos das árvores e as últimas folhas já estão no chão.

Acordar de manhã cedo é a maior de todas as misérias. Embora o aquecedor mantenha o quarto e a casa em condições apropriadas para tomar sorvete e ficar de camiseta de manga curta sem se preocupar. Da porta para fora a beleza do espetáculo salta aos olhos...

... orelhas, nariz, queixo, mãos, pés. Tudo esfria rapidamente.

E, para um careca como eu, manta e touca são aparatos essenciais. Sem contar o coquetel de vitaminas e pílulas que me ajudam a manter a carcassa em pé, nestes exaustivos dias finais de dezembro, com dezesseis horas de trabalho por dia. Sem parar.
Vitamina B, A to Z complexo vitamínico, cálcio, comprimidos de vitamina C, Omega 3, Ginseng. E por aí vai, no rumo de uma dosagem correta para uma rotina realmente desgastante.

Ainda não peguei gripe porque não corro atrás dela. Corro para longe, isto sim. Espero que até o dia 13 de janeiro ela não me peque.

Dia 13 muda a figura do ambiente. Brasil iu iu. Férias. Calor, sol, verão, água gelada e pés descalços. Um contraste do tamanho dos cuidados de quem pisa na neve. Não deslisar, agora, é o mais importante de tudo.


domingo, 5 de dezembro de 2010

O preço da tecnologia

É muito fácil entender a enxurrada de I Phones no mundo inteiro, com muito mais rapidez nos países mais desenvolvidos.

Ontem fomos ao mercado. Com o inverno na porta de casa, um vinho tinto sempre vai muito bem. Fizemos nossas compras de rotina e, de quebra, uma garrafa do chileno Isla Negra Cabernet Souvignon. Custa £4. O caixa, um argeliano, me recebeu com um sorriso de surpresa no momento de pagar a conta. Apresentei o I Phone com o aplicativo do próprio supermercado, o Tesco, para passar no leitor eletrônico. Na tela do celular, o código de barras para a soma de pontos em cada compra e possibilidade de descontos depois de um número X delas.

O cartão de papel do Tesco Clubcard logo estará superado por telas de celulares que viram selo magnético, a contar o tamanho das filas nas lojas da Apple e todas as suas revendedoras.

Quando renovamos nosso contrato bienal com nossas operadoras de celular, mês passado, nos ofereceram a chance de ter um Iphone "de graça" para fazer o upgrade por mais dois. Detalhe: I phone 3. No entanto, I4, a versão mais atualizada, é a que realmente leva a fila ao balcão.
Digo "de graça" porque o aparelho não custa nada, basta ter uma conta de £25 ou mais por mês, durante 24 meses. No pay as go, o mesmo aparelho custa £550.

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As prestações mensais aumentam de acordo com a realidade de cada cliente. I phone 4 com 16gb, câmera fotográfica 5.1 megapixels, flash, 600 minutos por mês, mensagens de texto ilimitadas, 500 Mb de Internet pela operadora e outro 1gb inteiro wi-fi (de onde podemos captar o sinal dos outros sem pagar!).
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Optamos por este mesmo, embora já tenham versões de 32 Gb e tudo mais, o que não é o caso da nossa necessidade.
Eu e a Raquel parecemos, as vezes, duas crianças sobre a nossa cama em momentos de descanso. Ela no I phone dela. Eu no meu.

- Vai na Loja Apple e abre entretenimentos. Olha o programa Tvguide. É de graça! - diz a Raquel.
- Daqui a pouco, amor, agora não posso. Estou "busy" baixando a última versão do Fifa 2011!

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Uma semana de Iphone 4 no bolso bastou para conseguir fazer os dowloads de graça da BBC1, Biz Sun, Telegraph, MTV news, CNN Internacional, Discovery News, Le Mond, o aplicatido do Ipod, I Tunes, as rádios Absolute 80s, Absolute 90s, Capital FM, e um programa de todas as rádios "junto reunidas".

Para um nostálgico, como eu, acreditar que tenho todas as rádios do mundo em minhas mãos sem pensar no estresse de virar a antena para captar o sinal, é praticamente um sonho que se torna realidade.
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Todas as manhãs vou ao trabalho com ele nas mãos e os fones nos ouvidos. De casa até a estação, assisto BBC live. O noticiário das sete da manhã. Naqueles próximos 20 minutos terei informação suficiente para passar o restante do meu dia dentro da cozinha sem precisar contato com qualquer tipo de mídia. Mas ele continua ali, no bolso, pronto para qualquer momento.
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Na viagem de Metro, música ou video game. Já baixei o velho Street Fighter e, na maioria das vezes, luto com o Ryu. Agora estou tentando virar com todos. Já virei com vários. Também já baixei o Assassins Creed, o Fifa, alguns de estratégia medieval, o Call of Duty, Spider Man e World War. Estou baixando o NAV Free, um sistema GPS que possibilita acessar do celular os mapas de todas as estradas do Reino Unido. O Tom Tom, o melhor programa de todos os GPSs é também o mais caro. Custa £49,99.Muito útil para quem precisa.
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A Loja da Apple é fascinante. Principalmente porque apresenta inúmeras utilidades de graça. Já baixei aplicativos da condição do tempo, atualizações do funcionamento do Metrô, mapas, wallpapers, Red Laser (leitor de códigos de barra que apresenta o preço do produto), entre tantos outros. Restaurant Review, Estaçoes de frutas e vegetais, o próprio Clubcard do Tesco, site de esportes, até a UEFA eu tenho. Sem contar calculadora, compasso, lanterna, despertador, gravadores de voz e vídeo, vídeo câmera onde faço meus ensaios curtíssimos para este blog, o Facebook, Messenger, Skie e Twitter, todos inteiros, ao meu dispor!
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Como é empolgante poder, mesmo que somente no tempo do deslocamento ao toalete, em poucos minutos, ligar o celular, conectar no messenger através da Internet Wi Fi do local onde eu trabalho, e receber um oi da mãe. Da irmã. Do irmão. Ou, com muita sorte, encontrar a Raquel também em algum momento de break. Conversas instantâneas e proximidade on line.
De algum forma, a tecnologia é confortante. Como é legal fotografar ou filmar o momento, e dividí-lo com o mundo inteiro!
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Mas o que mais me impressiona, ainda, são as coisas da realidade como um todo. Saímos do mercado, depois de ter recebido um desconto de £4 pelo Clubcard (valor que pagou o vinho!), e a Raquel falou
- Está tudo mais caro!
Foi quando veio a idéia inteira deste texto, que eu escreveria quando chegasse em casa.

- Esse é o preço que se paga por tecnologia, respondi.