Foi quando o silêncio se fez presente. Infestou o ambiente com a ausência de tudo. Ain Soph não sentia no rosto a velocidade do vento. Não ouvia folhas e frutas caindo. Estava sentado, com as costas apoiadas no tronco daquela árvore. Tranquilo. Com os olhos fechados. Não sentia odores, via cores ou experimentava qualquer sabor. Estava ali. Simplesmente estava. Como se jamais estivera antes.Ain Soph tinha apenas a impressão convicta de que seu nome ainda não estava completo. Decidiu que, naquela maré de ausências, simplesmente ficaria ali onde estava. Imóvel. Irredutível. Num momento de repouso naquela tarde escaldante do verão em Nápoles.
Foi quando definiu sua própria posição. Imaginou um ponto. Ain Soph reconhecia que, caso houvesse algo além do nada, esse algo somente poderia começar com uma posição fixa. Esta era a primeira condição para que começasse a transformar sua própria existência.
Foi então que entendeu: um simples ponto continuará sem significado algum se não puder ser comparado com alguma outra coisa, pois continuará para sempre sendo apenas um ponto!
Era necessário um outro ponto.

Incidentalmente, Ain Soph mostrava a si mesmo, com a criação do terceiro ponto, a existência do plano. Estava criado o triângulo. E, com ele, o todo da Geometria Plana.
Ele mesmo criou o abismo no qual estava prestes a atravessar. Precisava imaginar o factual. O agora. O aqui. O material. Um quarto ponto se tornou essencial, mostrando a ele que a saída era a criação da idéia de matéria. O ponto, a linha, o plano e o sólido.
Estava completa a primeira parte daquilo que poderia ser dito como o desenvolvimento do nada para a existência de alguma coisa. No entanto, nada poderia acontecer senão a posição de certos pontos em relação aos outros e a si mesmo. Uma quinta idéia era necessária: Ain Soph pensava positivamente na existência do movimento. Ain acreditava que o mundo era perfeito.
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Abriu os olhos e entendeu a mensagem que havia recebido segundos antes. Sabia, a partir de agora, que o absoluto deve ser ou se manter como o nada até que tome consciência de suas possibilidades e venha a se juntar às vivências de todos os tipos de possibilidades.
Ergueu a cabeça e visualizou um horizonte de luz. Entendeu que as idéias de ser, pensar e viver constituem as qualidades mínimas que um ponto deve possuir se quiser contar com algum tipo de experiência real de si mesmo nos caminhos da vida. A luz, encandescente àquela altura do dia, o fez levantar. Cerrou os olhos e, quase cego de tantas evidências, viu a esfera brilhante à sua frente: trazia o número 10 e a parte que lhe faltava do próprio nome: Ain Soph Aur, "a luz infinita".