domingo, 9 de maio de 2010

As mães de todos os tempos





No campo, observa-se a rotina daqueles anos sombrios. Os homens passavam nove meses na estrada. Menos de três em casa, quando faziam filhos. Partiam trilhas, montanhas, planícies e planaltos em busca de novas conquistas. Ou venciam inimigos, ou eram apenas alguns a menos no caminho de retorno. Viviam em guerra. As mulheres reconstituiam ambientes familiares a muito custo e esforço. Mantinham a casa organizada. Assim era a vida das nossas mães medievais. Trabalho e incertezas.

Cortavam madeira. Concertavam rodas de carroças. Faziam comida. Roupas. Velas. Sabão.

Ensinavam os filhos a seguir os mesmos passos arredios dos pais. Ensinavam as filhas os melhores pontos de bordado. As mais contagiantes histórias de fadas. Lendas. Folclore. Como lavar a roupa.


Entre centenas de outros trabalhos caseiros, precisavam conter o avanço de estrangeiros em terras da família. Precisavam garantir o sustento da casa com os grãos. Preparavam a terra ao passo de uma guerreira com seus poucos bois. Aravam. Semeavam. Plantavam e colhiam. Faziam o estoque. Preparavam o alimento. Engatilhavam armas e cuidavam dos cavalos.

Era dura a vida das mães do campo.

Na cidade não era diferente.

Viviam em grupos. Trabalhavam como enfermeiras, cozinheiras, parteiras, lenheiras, benzedeiras, lavadeiras e marcineiras. Auxiliavam em todos os postos de trabalho. Não faziam guerras. Não matavam, curavam.

As mulheres são assim. As que amenizam. Purificam. Limpam e tratam.
Controlam os ferimentos da vida ativa dos homens. Controlam dores, sabores e amores.
As mães são assim. Foram assim desde os primórdios dos tempos.
São assim as mães da atualidade.
Cuidam dos filhos. Dos seus companheiros. Da família.
As mães modernas utilizam outras ferramentas que não os martelos, machados e tesouras. Usam o mouse. O teclado. A webcam. Falam ao microfone com a naturalidade de um radialista.
As mães modernas não sofrem mais com a ausência de notícias ou a simples carta esporádica, entregue quando o sobrevivente aos conflitos cumpria caminhos inglórios, desafios de vida.
As nossas mães de hoje apresentam o ar de quem pode se dar ao luxo do tempo livre. Lêem. Encontram filhos ou maridos que estão longe, no modo virtual.
Estão em contato permanente.
Reinicializam seus computadores quando tranca.
Não precisam mais salvar vidas. Plantam idéias. Não cortam mais lenha. Compram CDs. Pintam unhas e cabelos. Cuidam da aparência, não mais dos ferimentos.
No entanto, vivem com uma outra lacuna. A da vida moderna.
A lacuna que nem a vida virtual e moderna é capaz de conter.
A lacuna de tempos antigos ainda é a mesma de hoje. Esta lacuna chama saudade.
A exemplo dos filhos, maridos, companheiros e demais membros da família, as mães, talvez, sejam as que mais sofrem de saudade.
Mas sabem que o desafio dos filhos em tempos modernos é o mesmo dos pais dos tempos antigos. Saem de dasa em busca de suas glórias, conquistas, aprendizagens, vivências.
As mães são felizes e orgulhosas por isso. Embora precisem conviver sempre com aquele misto de agonia e saudade.
Em todos os tempos, a saudade foi, é e sempre será um dos maiores combustíveis da alma. Alimento do corpo. A cura do espírito.
Mães, parabéns pelo dia de vocês. Obrigado por suportarem todo o fardo de insegurança de seus filhos. Por mais seguros que sejam.


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